O Terror Comunista Face e em Comparação com o Terror Capitalista – Ludo Martens

Cito aqui um texto de Ludo Martens para levar às almas piedosas e boas (das almas intelectuais e cínicas às almas simples e sentimentais) o facto inquestionável de que, infelizmente mas é assim, toda a consolidação de desenvolvimento de sistemas económico-sociais até agora se tem realizado sem excepção através da violência, levando para a morte milhões de pessoas inocentes ou culpadas de alguma coisa. 
É preciso informar, por conseguinte, que a vida de bem-estar de vocês, que bradais contra os crimes dos comunista, está assente em crimes muito mais abjectos e numerosos: os dos massacres, genocídios, escravatura e servidão camponesa e operária nos vossos próprios países e, pela divisão internacional do trabalho, nos países em que pagais salários de miséria para poderdes comprar as vossas roupas e engenhocas a preços acessíveis.


Face ao terror colonial e fascista
“As realizações do primeiro país socialista no decurso dos anos 20-30 não podem ser avaliadas no seu justo valor senão comparando-as com o desenvolvimento do mundo capitalista «avançado». Durante os anos 20 e 30, a Europa «democrática» alimentou-se em grande medida graças à exploração desenfreada de centenas de milhões de camponeses e de operários nas colónias. Trabalhos forçados, culturas obrigatórias, salários de fome e, para os que se revoltavam, matanças impiedosas. Ryckmans, o governador-geral do Congo belga, dizia em 1946:
«O nível de vida dos nossos indígenas das aldeias é inferior ao mínimo vital. O limite foi atingido».(7)

Os socialistas de direita, tão alerta para descobrir «o terror» contra os camponeses ricos da União Soviética, fingiam ser cegos perante o terror bem mais implacável que sofriam povos inteiros do Terceiro Mundo. Compare-se os duros sacrifícios consentidos pelos trabalhadores soviéticos para construir o seu próprio futuro socialista, aos sacrifícios desumanos impostos pela força bruta aos camponeses e operários africanos e asiáticos para único proveito das potências coloniais estrangeiras. Compare-se a repressão na União Soviética, exercida pela primeira vez na história no interesse das massas populares para domar as classes exploradoras, ao terror imposto aos trabalhadores do Terceiro Mundo para enriquecer desmesuradamente o capital financeiro ocidental.


A partir de 1933, os esforços do partido e do povo da União Soviética foram levados ao extremo no combate pela industrialização e pela defesa contra a ameaça fascista.
À medida que se aproximavam as nuvens da guerra mundial, a actividade anti-soviética dos reaccionários e dos serviços secretos nazis intensificava-se. Nestas circunstâncias, Stáline e a direcção do partido organizaram uma depuração durante a qual numerosos agentes secretos e elementos anti-soviéticos incorrigíveis foram atingidos. Mas, ao mesmo tempo, milhares de comunistas foram injustamente acusados e executados. Os êxitos da edificação, assim como a confiança inquebrantável das massas mais pobres no partido comunista, criaram um clima no qual era cada vez mais difícil opor-se às infracções ao centralismo democrático e a certas decisões arbitrárias, nas quais Stáline se tornava culpado. Dos 1966 delegados ao XVII Congresso do partidobolchevique, em 1934, vieram a ser condenados 1108 e houve um grande número de execuções. Como centenas de outros, Éikhe, membro suplente do Politburo, declarou antes de ser fuzilado:
«Morrerei acreditando na justeza da política do Partido como acreditei durante toda a minha vida.»(8)

Stáline e os dirigentes do partido estimavam que as suas medidas extremas eram necessárias para manter a pureza e a firmeza do partido na previsão das batalhas impiedosas contra os nazis.
Todos os fanáticos do colonialismo e os fervorosos do fascismo na Europa se serviram imediatamente de certos erros do poder bolchevique para tentar minar a confiança das massas na causa comunista. Mas é preciso não esquecer que na União Soviética foram essencialmente os comunistas as vítimas dos erros de outros comunistas. O general Gorbátov, condenado a quinze anos de prisão, conheceu a deportação na Sibéria. Libertado no princípio da guerra, tornou-se num dos heróis do Exército Vermelho.(9) Sem dezenas de milhares de Gorbátov, vítimas de injustiças mas continuando fiéis ao ideal bolchevique, a União Soviética não poderia ter vencido o monstro nazi.


Os erros, cometidos por Stáline e pela direcção, não alteraram o carácter revolucionário do Partido, que cumpriu de forma admirável os seus deveres históricos e internacionalistas no decurso da guerra antifascista.”