Vigilância dos Trabalhadores?

 
“Acho que sim. Os trabalhadores são uns ingratos: andam a viver do ordenado do patrão, preguiçam quando o patrão está fora e ainda têm a lata de protestarem que ganham mal. Alguns até reclamam por lhes aumentarmos o horário de trabalho! Até parece que trabalhar é coisa aborrecida. Ora bolas! Se estão mal, que se vão embora, que têm liberdade para tal. Estamos num país livre. 
Os trabalhadores é que não são capazes de dar por isso. Na verdade, não são bem trabalhadores, pois quem trabalha connosco é colaborador. E quem não quer colaborar, pode bem ir-se embora. Repito, para quem é surdo: estamos num país livre. Ninguém é obrigado a colaborar com ninguém. 
Devem ser burros, os trabalhadores, quero dizer, os colaboradores. Aliás, se não fossem burros seriam patrões. Só que é uma questão de genética. Nasceram, coitados, com um cromossoma a menos, ou com os genes da mandriice e da falta de inteligência. 
Haver patrões, quero dizer, empresários, e trabalhadores, quero dizer, colaboradores, faz parte da ordem natural das coisas. Alguém tem que pensar e dirigir; os outros são quem obedece e faz o que os mais capazes, de inteligência e vontade, mandam fazer. Se não fosse assim, ninguém se entendia, ninguém obedecia, a violência imperava ou era domada pela força para reinar a incompetência total. Os malditos comunistas é que meteram em algumas cabeças que essa não é a forma natural da sociedade”.
E se isto for verdade, qual será o fim desta sociedade feliz?